Até hoje
A academia eu começo na segunda porque neste ano, sem férias, o drama aquele de colocar o biquíni e sobrar alguma coisinha aqui e ali não vai me pegar. E se eu for à praia, é simples. Digo que não posso chegar perto do mar por ordens médicas. Desse jeito dá até para começar o regime no mês que vem, porque ainda tem muito tempo até o próximo verão.
Eu deveria estudar agora, mas depois da novela vai passar de novo aquele filme que eu sempre vejo quando reprisa. Já sei, amanhã acordo um pouquinho mais cedo para ler a matéria inteira. E, se por acaso me der preguiça, ainda sobra a hora do intervalo. A verdade é que a prova de amanhã nem é tão importante, a recuperação já foi marcada para a semana que vem. Daí eu estudo.
Quantos livros eu li este ano? Comecei dois, mas ainda não terminei nenhum. Assim que o trabalho estiver mais tranquilo vou retomar os dois, e ao mesmo tempo. Depois deles, já tenho vários outros na lista, até o fim do ano eu coloco a leitura em dia.
Vou ligar para ela. Foi uma briga idiota, implicância sem importância, coisas da convivência. Vou ligar, mas não agora. Antes vou tomar um banho, fiquei de encontrar o pessoal daqui a pouco. Se chegar tarde, ligo amanhã no primeiro momento livre, ou no fim do dia. No máximo, depois de amanhã.
Vou arrumar o guarda-roupa sem falta no final de semana. Vou me inscrever para o vestibular, mas não para o próximo, que já está muito em cima. Vou comprar um apartamento, vou viajar por três meses, vou aprender inglês, vou fazer as pazes com o meu irmão, vou mudar de vida.
Tem coisa demais para fazer amanhã? Comece hoje.
Não que seja fácil. Mas só pelo que economiza de angústia e culpa, já paga a tentativa.
Claudia Tajes é escritora e autora de Por isso eu sou vingativa, Só as mulheres e as baratas sobreviverão, A vida sexual da mulher feia, Dez (quase) amores, entre outros.
E você, tem deixado muita coisa para depois?
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